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Publicado em: 17/12/2018 - 11h04 Atualizado em: 17/12/2018 - 17h00 Comarca: João Pessoa Tags: livro

Desembargador Marcos Cavalcanti lança seu primeiro romance intitulado ‘A Preta  Gertrudes’

A obra retrata a batalha judicial da escrava paraibana, durante 14 anos, para evitar que fosse vendida ilegalmente

O desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque lançou, na última sexta-feira (14), o seu primeiro romance ‘A Preta Gertrudes’. A obra histórico-jurídico retrata a batalha judicial da escrava paraibana, durante 14 anos, para evitar que fosse vendida ilegalmente em praça pública, como pagamento de uma dívida. O fato aconteceu no século XIX. Esta é a 25ª obra escrita pelo autor, que é, também, diretor da Escola Superior da Magistratura (Esma) e imortal da Academia Paraibana de Letras. 

A solenidade, que contou com a presença de magistrados, advogados, conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, deputado estadual, imortais, leitores, amigos e familiares, ocorreu no Centro de Estudos Jurídicos  e Sociais (CEJUS), no Bairro dos Estados, em João Pessoa. O evento foi aberto pelo presidente do CEJUS, José Fernandes de Andrade, que deu boas vindas aos presentes. Em seguida, a professora Irene Fernandes explanou sobre suas impressões acerca do processo histórico da obra. 

O presidente da Academia Paraibana de Letras, Damião Ramos Cavalcanti, fez a apresentação do romance durante o lançamento. “O brilhantismo do autor Marcos Cavalcanti está nisso, transformar a aridez de um processo judicial num romance, evitando a sequência monótona de um processo em momentos de surpresa. É um livro muito interessante e original, porque nem todos encontram uma Preta Gertrudes pra fazer um romance”, falou Damião.

Na obra, o autor esmiuçou a história da personagem em 28 capítulos: da infância feliz de Gertrudes Maria a orfandade, passando pela menina escrava, seu relacionamento amoroso com o índio Kauê, entre outros tópicos marcantes. “No livro, o leitor vai encontrar uma história bem amena, com cerimônias religiosas, poesia e termos jurídicos em latim dos debates do processo”, disse o desembargador Marcos Cavalcanti.

Apesar de ser o seu primeiro romance, Marcos Cavalcanti tem uma paixão antiga por esse estilo literário. Ele ressaltou que o estudo e a pesquisa a respeito da obra durou mais de uma década. “Este é um processo judicial quase bicentenário e se tornou um caso muito emblemático. Porque trata de uma escrava que foi penhorada em juízo, como se faz a penhora de uma casa, de um automóvel, enfim, de um bem qualquer, para garantir uma dívida do seu proprietário, o senhor Carlos José da Costa”, explicou o autor.

Também presente ao lançamento, o presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba, desembargador Joás de Brito Pereira Filho, parabenizou o historiador e escritor pela temática apresentada no livro, ao mostrar a luta de uma escrava para não ser vendida em praça pública. “Esse romance é mais uma obra literária que teremos de ler para conhecer a história da escrava Gertrudes, que lutou pelos seus direitos”, enfatizou o presidente do Judiciário estadual.


Um dos momentos mais marcantes do evento foi a apresentação do marfinense Sourou François Fadegnon e do índio Tawã, da tribo Potiguara. Segundo François, a obra aborda uma das questões mais marcantes ocorridas no país no século XIX, a luta de uma escrava por sua liberdade. Para Tawã, que hoje é advogado, Gertrudes Maria buscou meios para que houvesse dignidade. “Mesmo naquela época não estando em evidência, ela deu o pontapé inicial e somos pautados nisso, a nossa resistência é focada na luta sobre nossos direitos e busca por conquistas”, disse Tawã.

O livro possui 386 páginas e leva o selo da Editora A União. O trabalho literário tem editoração do programador visual Martinho Sampaio; a capa é uma pintura do artista Flávio Tavares, trabalhada por Modesto Cavalcanti. A revisão do texto é do professor Ivan Costa. A apresentação e o prólogo são do crivo dos jornalistas José Nunes e Valter Nogueira, respectivamente. 

Negra do Tabuleiro -  A ‘Negra do Tabuleiro’, como era chamada, vendia frutas, verduras e o que mais lhe permitiam. Com cerca de 30 anos, Gertrudes Maria não quis ser vendida em praça pública e, para que isso não acontecesse, travou uma guerra judicial pela própria liberdade.

Ela teve que se opor a um embargo de penhora contra seu senhor, iniciado em 1828, que colocou em risco a sua liberdade parcial. Seu grande feito foi o de não ter se posicionado de forma passiva e de ter procurado de imediato o auxílio de advogados em sua defesa. Naquela época, não era comum às mulheres ou aos homens escravizados contratarem advogados ou serem representados por eles.

Gertrudes chegou a ser presa. Para conseguir a liberdade de volta, solicitou um novo responsável, o tenente Modesto Honorato Victor. Quatro meses depois, em abril de 1841, o mesmo credor entrou com uma ‘Ação em Juízo’ na tentativa de vender Gertrudes e os filhos dela em praça pública para receber a dívida, sendo estas as últimas informações registradas sobre o caso.

Por Marcus Vinícius
 

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