Íntegra do discurso do desembargador Márcio Murilo saudando o novo desembargador Arnóbio Alves Teodósio em nome do Tribunal Pleno
por Evandro da Nóbrega,
coordenador de Comunicação Social do Judiciário paraibano
Contando fatos desconhecidos da carreira do homenageado e destacando que sua vida tem sido exemplo de perseverança e simplicidade, o desembargador Márcio Murilo da Cunha Ramos ¿ indicado pelo desembargador-presidente Antônio de Pádua Lima Montenegro para fazer a saudação ao mais novo integrante do Tribunal Pleno ¿ disse que o desembargador Arnóbio Alves Teodósio assumia o TJ-PB com ¿a difícil missão de substituir o competentíssimo desembargador Martinho Lisboa¿.
E isto ocorre, segundo afirmou ainda o desembargador Márcio Murilo, ¿num momento especialmente feliz para a magistratura paraibana: finalmente ¿ finalmente mesmo! ¿ este Tribunal aprovou o cargo de assessor para juízes de 1º. grau, realidade com que nós, do 2º grau, já contávamos há mais de 20 anos¿.
REVOLUÇÃO NA PRODUTIVIDADE
¿ Creio que se aproxima uma nova revolução de produtividade no Judiciário, com o processo virtual e a implantação dos cargos de assessores de Juízes de Direito do 1º. Grau. O tempo comprovará o que agora afirmo ¿ disse ainda o desembargador Márcio Murilo, que, logo depois, passou a tratar da figura do desembargador Arnóbio Alves Teodósio, que tomava posse como o mais novo integrante do Pleno.
Lembrou o desembargador Márcio Murilo, por exemplo, ¿do inusitado caso em que um rude proprietário de um bar em Alagoinha estava surrando um cachorro e o então Juiz local teve que pedir para o agressor parar com tal contravenção. Mas ele não parou ¿ e foi preso por ordem do jovem juiz, numa atitude muito aplaudida pela população da cidade. Eis aí o exemplo de um Juiz que mora em sua Comarca, que reside junto a seu povo. E ele assim agiu, sempre morando na sede de sua jurisdição, em todas as Comarcas pelas quais passou¿.
ÍNTEGRA DO DISCURSO
¿Excelentíssimo Senhor Presidente do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, desembargador Antônio de Pádua Lima Montenegro, em nome de quem saúdo todos os integrantes e todos os servidores do Pleno. Caríssima Dona Irene Alves Teodósio, por cujo nome solicito autorização para homenagear todas as pessoas presentes a este auditório. Minhas senhoras, meus senhores:
Falar do desembargador Arnóbio Alves Teodósio é traduzir, ao mesmo tempo, as palavras perseverança e simplicidade. Logo explicarei isto.
Recebemos o novel integrante do Tribunal Pleno, que tem a difícil missão de substituir o competentíssimo desembargador Martinho Lisboa, num momento especialmente feliz para a magistratura paraibana: finalmente ¿ finalmente mesmo! ¿ este Tribunal aprovou o cargo de assessor para juízes de 1º. grau, realidade com que nós, do 2º grau, já contávamos há mais de 20 anos.
Creio, Senhor Desembargador Antônio de Pádua Lima Montenegro, que se aproxima uma nova revolução de produtividade no Judiciário, com o processo virtual e a implantação dos cargos de assessores de Juízes de Direito do 1º. Grau. O tempo comprovará o que agora afirmo.
Mas, hoje, a festa é específica do menino serrariense Arnóbio Alves Teodósio, que, nascido no sítio Macaíba, zona rural de Serraria, tinha que caminhar seis quilômetros, quando estudava o Primeiro Grau, para se deslocar até o Colégio Francisco Duarte, onde meu pai e minha mãe lecionavam. [Nota do Editor: o então juiz e depois desembargador Miguel Levino de Oliveira Ramos e sua esposa, a Sra. Olga da Cunha Ramos].
Aos treze anos, ao abrir um papel de revista, usado como embrulho na bodega de seu pai, viu uma foto de um juiz com toga, e, de imediato se entusiasmou, dizendo: ¿Vou ser Juiz de Direito¿. E foi perseverante nisso.
Na adolescência, já no Segundo Grau, que só era possível cursar em Solânea, o jovem Arnóbio tinha ainda que ajudar o pai na agricultura, cortando capim, e em seu modesto negócio, tomando conta da pequena mercearia, com a mesma disposição que se dedicava aos estudos.
Em respeito aos sentimentos do empossado ¿ que, como todos sabem, ainda está muito abalado com o passamento de seu genitor querido ¿, não irei me aprofundar nas qualidades do Sr. José Alves, que serviu como exemplo de firmeza de caráter.
Mas faço questão de dizer que o adolescente Arnóbio, já no Segundo Grau, tinha que caminhar, à noite, cerca de 15 km de ida e 15 km de volta, para poder estudar em Solânea e trabalhar no sítio. Eram, portanto, mais de quatro horasde caminhada, chegando diariamente o pobre do estudante, em casa, por volta de uma hora da madrugada. Isto se repetiu até que um tio, penalizado, doou-lhe uma sela e, utilizando-se de um cavalo usado no trabalho da agricultura, atenuou o sofrimento do jovem Arnóbio.
Essas carências não o impediram, no colégio, que se apaixonasse pela minha madrinha e conterrânea Drª. Valdira, que morou a poucos metros da casa oficial do Juiz da Comarca em que nasci. Tenho certeza que, ante essa paixão, até que ficou menor a distância a ser percorrida por Arnóbio entre sua casa e o local em que estudava... Como dizia o escritor José Américo de Almeida: quanto mais peso recebe o carro-de-boi, mais belamente canta...
O jovem Arnóbio ensinou matemática, para conseguir alguma renda. Inscreveu-se num curso de professor em João Pessoa, indo morar numa república. Eram ainda, sem dúvida, tempos difíceis.
Fez Vestibular para Direito em 1971. E destaco aqui um fato que, tendo em vista a simplicidade do ora homenageado, é do conhecimento de poucas pessoas: no Vestibular, passou com nota altíssima em inglês ¿ isto porque amigo de um americano que trabalhava na Emater de Serraria e com quem sempre conversava, treinando seu inglês.
Pensar que as agruras acabaram? Não! O rapaz Arnóbio não dispunha de livros. Estudava unicamente pelos livros da biblioteca e fazia as refeições no Restaurante Universitário da UFPB. Aos finais de semana, pelo fato de esse Restaurante estar fechado, só fazia lanches... O dinheiro não dava para uma refeição completa.
Mesmo dispondo do Curso de Formação como Professor, o acadêmico Arnóbio Alves Teodósio ¿ por ser rapaz vindo do Interior do Estado e não ter amigos importantes, como nos diz o compositor ¿ não conseguia emprego que lhe garantisse o sustento. Finalmente, quando já concluinte do curso de Direito, é que foi chamado por seu Haroldo, do Cartório de Serraria e conhecido de meu pai, para ser suplente de Juiz em sua terra natal, onde exerceu o mister por mais de um ano.
Graduado em Direito, o Dr. Arnóbio advogou primeiramente para a FETAG (Federação Estadual dos Trabalhadores na Agricultura). Fez depois concurso para o cargo de delegado de Polícia, trabalhando, por mais de um ano, em Campina Grande e João Pessoa.
Como Juiz de Direito, passou por várias Comarcas. Lembro-me de que eu mesmo estava fazendo concurso para Juiz quando o Dr. Arnóbio jurisdicionava Alagoinha. Também morava eu em Alagoinha, como advogado da FUNDAP. Por esse tempo, portanto, freqüentei sua casa.
Como juiz de Alagoinha, o Dr. Arnóbio residia em casa humilde e quase que insalubre, mas nunca se lamentava, como não se lamenta até hoje, pois a pureza de sua toga estava acima de todas as circunstâncias desfavoráveis.
Lembro-me, também, do inusitado caso em que um rude proprietário de um bar em Alagoinha (o Dr. Carlos Beltrão Martins Filho bem sabe deste fato) estava surrando um cachorro e o então Juiz local teve que pedir para o agressor parar com tal contravenção. Mas ele não parou ¿ e foi preso por ordem do jovem juiz, numa atitude muito aplaudida pela população da cidade. Eis aí o exemplo de um Juiz que mora em sua Comarca, que reside junto a seu povo. E ele assim agiu, sempre morando na sede de sua jurisdição, em todas as Comarcas pelas quais passou.
O agora desembargador Arnóbio Alves Teodósio me disse certa vez que nunca se esquecera de uma passagem de sua vida. Um homem em Serraria, ao ouvir o menino Arnóbio dizer que estudaria para ser Juiz de Direito, dissera:
¿ Menino, tua caneta vai ser uma enxada!
Bem depois, já como Juiz de Areia, o Dr. Arnóbio determinava o pregão de uma audiência criminal, às 8 da manhã, quando o oficial de Justiça lhe apresentou o réu, um senhor já idoso.
Era o mesmo homem que, muitos anos antes, dissera ao menino Arnóbio aquela terrível expressão, como num desejo premonitório: ¿Tua caneta vai ser uma enxada!¿.
O homem tornara-se réu e, o menino, Juiz de Direito.
Apesar do abalo emocional experimentado no momento, o Dr. Arnóbio se apossou da caneta, que era sua, com a serenidade dos vocacionados de Themis.
O homem que agora toma posse como Desembargador da mais alta Corte de Justiça do Estado foi eficiente Diretor do Fórum de Campina Grande e Juiz-Auxiliar da Corregedoria-Geral de Justiça, além de atuante Juiz Criminal.
Sua alma gêmea é a professora Valdira. É pai de Valdirene (psicóloga e servidora concursada deste Tribunal); sogro de Adolfo (administrador) e avô de Arthur (com cinco meses), que está reinando em sua casa. Também tem o afeto do sobrinho Sanderson. E, principalmente, apesar de toda a luta que teve de enfrentar vida afora, jamais perdeu a ternura. É de lembrar novamente o escritor José Américo: se o pau-d´arco perde as folhas, é para ganhar suas magníficas flores.
E orgulha-me contemplar sua simplicidade, equivalente à força da simplicidade do desembargador José Rodrigues de Ataíde, saudoso exemplo de vida para todos nós.
Mas vejam também a preocupação de seu pai, o humilde agricultor José Alves, e de sua mãe, a dona de casa Irene Alves Teodósio, com a educação dos filhos: o novo desembargador deste Tribunal Pleno, Arnóbio Alves Teodósio, é irmão de Maria Arlene (pedagoga); de Marlene (psicóloga); e José de Arimatéia (odontólogo).
Como vê, Dr. João Benedito, há muitos outros Arnóbios no Judiciário da Paraíba!
O desembargador Arnóbio também é apaixonado por futebol. E, coerente com isto, já me avisou, em tom de blague, que, quando chegar a Presidente desta Corte, a sessão do Tribunal Pleno terá data remarcada se coincidir com o dia de jogo do Campeonato Paraibano...
Do desembargador Arnóbio Alves Teodósio muito terei ainda a dizer. Mas do cidadão Arnóbio basta dizer: suas marcas registradas são a perseverança e a simplicidade.
Nascido em região serrana, não se intimidou com as quase intransponíveis montanhas. Eu disse ¿quase intransponíveis¿... E aí está! Aqui está ele! Aqui chegou o Desembargador Arnóbio para que reforcemos nosso orgulho de sermos brasileiros. Para que nos convençamos de uma vez por todas que ser brasileiro é nunca desistir!
Bem-vindo, em nome deste Tribunal, desembargador Arnóbio.
Muito obrigado a todos.¿
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