Simpósio alerta e conscientiza sobre violência contra mulheres e seus reflexos na saúde mental das vítimas
Debates sobre as consequências da violência na saúde mental das mulheres e de seus familiares, serviços de assistências às vítimas, importância da enfermagem, psiquiatria, psicologia, medicina e a enfermagem forense, a atuação e união do órgãos que integram a Rede Estadual de Atenção às Mulheres Vítimas de Violência na Paraíba (Reamcav) foram temas discutidos durante o ‘II Simpósio de Enfrentamento à Violência Doméstica: reflexão sobre saúde das vítimas’. Houve, ainda, o testemunho de vítimas da violência doméstica.
O evento, promovido pelo Tribunal de Justiça da Paraíba, por meio da Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar, e parceiros, dentre eles alunos do Projeto ‘União Médica’, reuniu profissionais da saúde, representantes dos Poderes Judiciário e Executivo, especialistas, estudantes e, especialmente, o público feminino, durante todo o sábado (27), no auditório do Campus da Famene, em João Pessoa.
A coordenadora da Mulher do TJPB, juíza Anna Carla Falcão, explicou que o simpósio representou a realidade vivida pelas vítimas de violência com as consequências na saúde mental, ocasionadas por atos praticados pelos respectivos agressores. Segundo observou a magistrada, foram dadas explicações de psicólogos e de psiquiatras sobre os comportamentos das vítimas de violência após os abusos que lhes são causados, de modo a compreenderem e se conscientizarem da seriedade do problema, inclusive, para toda a família.
“Levamos ao conhecimento do público os serviços que oferecemos no sentido de atendermos a vítima, os familiares da mesma e o autor dos fatos no seio da sociedade em que vivem e da própria família. Trouxemos, em uma linguagem simples, informações sobre o papel do Judiciário como integrante da rede de enfrentamento à violência contra a mulher”, frisou a juíza Anna Carla, realçando as explanações sobre o uso das armas brancas do medo, com menção a casos reais o que chocou a todos e a todas que estavam presentes.
Durante o Simpósio, vítimas que estavam no público testemunharam sobre violências psicológicas, físicas, patrimoniais e moral que tinham sofrido, sendo aplaudidas de pé por terem sido vitoriosas, ao saírem do ciclo de violência de cabeça erguida. “Foram momentos emocionantes e de muito aprendizado”, disse Anna Carla Falcão.
Foi enfatizado a utilização do aplicativo Maria da Penha virtual como meio de facilitar o acesso das vítimas à solicitação de medidas protetivas ao judiciário. Além de realçado o crescente aumento dos processos de violência doméstica no Tribunal de Justiça e conteúdos sobre os meios de denúncia.
A Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça teve o auxílio do projeto ‘União Médica’, formado por jovens que cursam medicina. O objetivo foi levar aos estudantes das áreas de psicologia e de medicina conhecimentos que os auxiliarão na vida pessoal e profissional.
“Disseminamos a importância das vítimas de violência não se calarem, como forma de saírem do ciclo de violência e, assim, poderem andar com os próprios pés, de cabeça erguida e construírem uma vida que tenha como lema a liberdade, a dignidade e a vitória”, reforçou a magistrada.
Para a secretária estadual da Mulher e da Diversidade Humana, Lídia Moura, uma das palestrantes, o evento se traduziu em um rico momento de debates, diálogos e discussões relevantes.
“Eu destaco com muita alegria o compromisso da Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça que tem levado informações, como fez com este Simpósio, a falar diretamente com estudantes da enfermagem, medicina e psicologia para que eles compreendam a rede, os seus deveres como profissionais e de que maneira podem contribuir”, enfatizou, ressaltando que o TJPB e a Secretaria atuam efetivamente para combater a violência contra as mulheres.
Também ministrou palestra no Simpósio, a enfermeira forense Rafaella Queiroga, que avaliou como muito positiva a iniciativa do TJ na realização do evento, por trazer a articulação multissetorial entre a justiça e a saúde, abordando uma temática de importância pública, tanto na saúde como nas diversas áreas do conhecimento.
“Essas iniciativas ajudam a sensibilizar as pessoas sobre a temática e, cada vez mais, nos educar em relação a identificação e o acompanhamento de casos de vítimas de violência, sempre no sentido de proteção à população assistida por todos os serviços, seja de saúde, policiais ou da justiça”, ressalvou.
Conforme explicou Rafaella Queiroga, a enfermagem forense é uma especialidade recente da Enfermagem, foi aprovada no Brasil em 2011 e suas competências técnicas foram publicadas em 2017. Podem atuar em diversas situações forenses, dentre elas, a violência, em todos os ciclos de vida, em todos os tipos de violência.
“A ideia é que possamos capacitar enfermeiros, que se especializem nesta temática, para que consigam identificar precocemente situações de violência, acolher as vítimas, fazer um atendimento integral, personalizado e diferenciado. De modo que consigamos melhorar as notificações compulsórias da violências, como as denúncias, e proteger auxiliando as vítimas no caminho para sair do ciclo da violência”, frisou.
Um dos palestrante foi o médico psiquiatra, Roberto Mendes dos Santos, professor de Psiquiatria da Residência Médica em Psiquiatria e do curso de Bacharelado em Medicina da Faculdade de Medicina Nova Esperança (FAMENE), com área de Atuação Psiquiatria, com ênfase em Psicofarmacologia, TDAH adulto, Dependência Química e Emergências Psiquiátricas.
Dentre os participantes estavam a juíza auxiliar da Presidência do TJPB, Lua Yamaoka, a presidente da Associação das Esposas de Magistrados e Magistradas da Paraíba (Aemp), defensora pública Maria da Glória Oliveira, além de representantes das Comissões de Combate ao Racismo, de Enfrentamento à Violência Doméstica contra a Mulher da OAB; Secretária de Políticas Públicas para as Mulheres de João Pessoa, Nena Martins; Diretoria de Enfrentamento à Violência Doméstica de Santa Rita, da Defensoria Pública e da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica.
Por Lila Santos